Uma retratista Russa contemporânea

Uma retratista Russa contemporânea

Ludmila Evguénievna Ulítskaya é uma das escritoras mais proeminentes da literatura russa contemporânea. Nascida em 1943 na cidade de Davlekanovo, na então União Soviética, Ulítskaya formou-se em biologia na Universidade Estatal de Moscovo e trabalhou durante vários anos como geneticista. No entanto, a sua trajetória na ciência foi interrompida quando perdeu o emprego devido a acusações de envolvimento com a disseminação de literatura proibida. A partir desse momento, dedicou-se à escrita e à tradução, tornando-se uma das vozes mais importantes da literatura russa pós-soviética.

Estreou-se com peças de teatro e contos, mas ganhou notoriedade pelos seus romances e coletâneas de narrativas curtas. Uma escrita profundamente humanismo, atenta à psicologia dos personagens e sensível na abordagem de temas como identidade, memória, moralidade e fé.

Fazendo a ponte com a pintura, Ludmila seria uma retratista da sociedade russa, especialmente no contexto da transição entre a União Soviética e a Rússia contemporânea. Como Tchékhov e Bulgákov, alia um olhar crítico a uma profunda compaixão pelas personagens, muitas vezes marginalizadas ou em conflito com o sistema.

Soniechka (1992) - encomendar

Publicado em 1992, este romance curto conta a história de Sofia Osipovna, uma mulher simples e modesta que encontra o amor inesperadamente ao casar-se com um artista mais velho. Um retrato complexo da vida emocional e intelectual, o contraste entre o mundo interior rico de Soniechka e as dificuldades da realidade soviética. Prémio Médicis, França-

O Caso Kukotski (2001)

A vida de Pavel Kukotski, um médico ginecologista cuja ética o leva a desafiar as políticas repressivas do regime soviético em relação ao aborto e à saúde das mulheres. Uma reflexão sobre a moralidade, a medicina e o destino humano, entrelaçando realismo com elementos do fantástico, algo que se torna recorrente na obra da autora. Prémio Booker Russo.

Daniel Stein, Intérprete (2006)

Inspirado numa história real, o romance acompanha a vida de um judeu polaco que sobrevive ao Holocausto, trabalha como intérprete para a Gestapo e depois se converte ao cristianismo. O livro é construído com cartas, diários e documentos fictícios, o que permite uma abordagem polifónica e multifacetada da narrativa. Fé, identidade e reconciliação, um olhar inovador sobre a interseção entre judaísmo e cristianismo no século XX.

Imago (2010)

Amplo retrato da sociedade soviética do pós-guerra, centrando-se num grupo de amigos que crescem em Moscovo durante o regime repressivo de Estaline. Explora o papel da cultura, da censura e da resistência intelectual num ambiente autoritário. O romance é uma das obras mais ambiciosas da autora.

Mentiras de Mulher (2002)encomendar

Nesta coletânea de contos, exploram-se as complexidades do universo feminino. Histórias que giram em torno de segredos, ilusões e relações interpessoais, nuances do comportamento humano, retratos realistas e sensíveis de mulheres que lidam com desafios emocionais e sociais.

Jakob’s Ladder (2015)

Épico familiar que abrange várias gerações e atravessa diferentes períodos da história russa. A narrativa acompanha Nora, uma mulher contemporânea que descobre os diários de seu avô, Jakob, e através deles reconstrói o passado da sua família.

Obra marcada por uma forte preocupação ética e humanista, feita de narrativas que intercalam o realismo com momentos de lirismo e introspecção. Linguagem fluida, elegante e repleta de detalhes que enriquecem a caracterização psicológica dos personagens.

Ulítskaya é uma das autoras russas mais traduzidas e respeitadas no mundo literário contemporâneo. O seu trabalho recebeu inúmeros prémios, incluindo o Prémio Simone de Beauvoir pela liberdade das mulheres e o Prémio Austríaco de Literatura Europeia. 

A sua posição política é clara. Crítica do governo de Vladimir Putin, Ulítskaya tem manifestado abertamente a sua oposição à repressão política e à falta de liberdade de expressão na Rússia. Isso fez com que fosse alvo de ataques e censura dentro do seu próprio país.

O seu legado literário não apenas enriquece a tradição russa, mas também dialoga com questões globais, tornando-a uma figura essencial na literatura mundial.

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